AUTORA: JANEIDE MOREIRA DA SILVA SOUZA
E-MAIL: jneynill@gmail.com
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo trata de um estudo sobre as
características apresentadas pelo aluno com TDAH e tem o intuito de analisar a
problemática da forma como os professores lidam com essas questões. Para alguns
professores, o aluno com TDAH na sala regular é visto como um aluno “problema”,
ou seja, indisciplinado, agitado e agressivo que causa uma verdadeira revolução
na sala de aula.
A dinâmica do ambiente escolar, em algumas situações
mostra que os profissionais da educação e mais especificamente o professor, têm
dificuldades em lidar com aluno com o comportamento muito ativo e inquieto (que
não estão de acordo com os padrões considerados normais de comportamento). Esta
realidade por algumas vezes acaba induzindo o professor a confundir os
diferentes tipos de comportamento, acentuadamente o agitado / agressivo e de
difícil convivência social. E é por essa razão que o professor, na grande
maioria das vezes, rotula esses alunos como *indisciplinados e/ou apresentam
outros problemas de **ordem psicológica, como aluno que tem Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Por desconhecer o significado do TDAH, seus
sintomas, causas, conseqüências e tratamentos na criança, na adolescência e, em
alguns casos, até na idade adulta, o professor comete equívocos e compromete o
desempenho do aluno. Contudo, podem-se enfatizar efetivas mudanças da prática
pedagógica diária do professor que atua no contexto da sala de aula,
demonstrando interesse em lidar e conhecer os fatores que o levam a identificar
alunos com possível ou real diagnóstico de TDAH.
Professores que têm alunos hiperativos precisam de
paciência e disponibilidade e principalmente conhecimento sobre TDAH, pois eles
exigem tratamento diferenciado, mais atenção e uma rotina especialmente
estimulante para estimular e desenvolver a capacidade de atenção da criança.
Valorizando assim o seu potencial. (Gentile, P. Revista Nova Escola maio, 2000)
Diante dessa abordagem observa-se a necessidade de
cuidados do professor em relação a esse tratamento diferenciado ao aluno com
TDAH, para que não aja uma super proteção ou até mesmo exclusão.
2. DESENVOLVIMENTO
Segundo Silva (2003), o TDAH deriva de um
funcionamento alterado no sistema neurobiológico cerebral, isto significa que
substâncias químicas produzidas pelo cérebro, chamadas de neurotransmissores,
apresentam-se alteradas quantitativamente e/ou qualitativamente no interior dos
sistemas cerebrais que são responsáveis pelas funções da atenção, impulsividade
e atividade física e mental no comportamento humano. Trata-se de uma disfunção
e não de uma lesão como anteriormente se pensava.
O cérebro de uma criança com TDAH, não se difere em
nada, nem em forma e nem em aparência, dos demais cérebros que não apresentam o
transtorno; a diferença está no íntimo dos circuitos cerebrais que são movidos
e organizados pelos neurotransmissores que, em uma última instância, seriam os
combustíveis que alimentam, modulam e fazem funcionar todas as funções
cerebrais. Assim, os neurotransmissores seriam as gasolinas dos carros, as
quedas-d’água que geram energia das grandes hidrelétricas ou mesmo a energia
atômica das usinas nucleares. (Silva, 2003 p. 176)
Para Silva (2003 p.179) estudos apontam para a
participação de outros neurotransmissores no funcionamento do cérebro, como é o
caso da serotonina que exerce papel como coadjuvante no processo de organização
cerebral. A ação reguladora do comportamento humano é feita pelo lobo frontal,
que exerce uma série de funções de caráter inibitório, sendo responsável em
frear os pensamentos, impulsos e velocidades das atividades físicas e mentais.
Observa-se que em sala se aula, alunos com comportamento agitado muitas vezes
arrancam os brinquedos de seus colegas, correndo sem direção de um lado para o
outro e não conseguem ficar por muito tempo quieto e / ou sentado no mesmo
lugar como também apresentam dificuldades para concluírem as tarefas escolares
solicitadas e em varias situações chegando a ser agressivos e interrompendo de
forma involuntária a comunicação, não permitindo a fala dos colegas e até mesmo
do professor. Entretanto, esse comportamento é geralmente confundido com
indisciplina ou é característico de um distúrbio de atenção que, de acordo com
Gentile (2000), o distúrbio de concentração e atenção atinge 5% das crianças e
adolescentes de todo o mundo.
Tiba (2000) faz algumas considerações importantes e
alerta para algumas diferenças notáveis entre o hiperativo e o mal educado. A
agitação do hiperativo tende a continuar diante de situações novas, porém, o
mal educado faz uma avaliação do espaço e manipula situações na busca de obter
vantagens sobre o outros. Todavia, diz ainda que, “tanto o hiperativo como o
mal educado são irritáveis por falta de capacidade para esperar”.
Topazewski (1999) reúne questões inerentes às
indagações mais freqüentes e as respectivas respostas, orientando psicólogos,
médicos, professores e pais, alertando para o tratamento do TDAH, uma vez que,
o não tratamento pode acarretar sérios problemas no âmbito escolar, no
relacionamento familiar e social e assim, agir como desencadeadores de distúrbios
comportamentais importantes. Percebe-se que a impaciência e a falta de educação
constante para ouvir o outro, torna quase impossível à sistematização de
qualquer coisa que seja dito ou mesmo a construção do conhecimento. Topazewski
(1999) diz ainda que, dependendo da classe social, o hiperativo pode ter uma
tendência maior para ingressar no mundo da delinqüência e das drogas (1999,
p.85).
Acredita-se que essa tendência do hiperativo de
ingressar no mundo das drogas, por exemplo, independe da classe social, pois
uma vez apresentando sintomas de TDAH na infância, estes demonstram uma
probabilidade maior de desenvolver problemas relacionados com comportamento
opositivos desafiador, delinqüência, transtorno de conduta, depressão e
ansiedade. É importante considerar que a impulsividade é uma descrição típica
de delinqüência. Pesquisas, no entanto, sugerem que o resultado desastroso
apresentado por alguns adolescentes não é uma conseqüência apenas do TDAH, mas,
antes, uma combinação de TDAH com outros transtornos de comportamento,
especialmente nos jovens ligados a atitudes criminosas e abuso de substâncias
químicas.
Pesquisas (BASTOS; THOMPSON; MARTINEZ, 2000) mostram
que a maioria das crianças com TDAH chega à maturidade com um padrão de
problemas muito similar aos da infância e que adultos com esse transtorno
experimentam dificuldades no trabalho, na comunidade e com suas famílias. Para
Rohde e Benczik (2007), quem tem TDAH apresenta chance maior de ter outro
problema de saúde mental como problemas de comportamento, ansiedade e
depressão, o que os médicos e psicólogos chamam de comorbidade (ocorrência de
dois ou mais problemas de saúde).
A hiperatividade é intensa nos primeiros anos de
vida com tendência a redução ao longo da primeira década e à medida que evolui
ocorre uma transformação na idade adulta e as manifestações tendem a ocorrer de
formas diferentes, predominando assim, o déficit de atenção e não a
hiperatividade.
Relatos sobre adultos com TDAH mostram que eles
enfrentam problemas sérios de comportamento anti-social, desempenho educacional
e profissional pouco satisfatório, depressão, ansiedade e abuso de substâncias
tóxicas. Infelizmente, muitos adultos de hoje, quando crianças não foram
diagnosticadas com TDAH, acredita-se que por falta de informação dos pais e
cresceram lutando com um transtorno que, freqüentemente, passou sem
diagnóstico, foi mal diagnosticada ou, então, incorretamente tratada. (Razera,
p. 56, 2001)
Adultos com o TDAH sentem dificuldades em planejar,
organizar seu dia a dia e provavelmente, enfrentará sérios problemas emocionais
e de relacionamento. Nota-se que a incidência de divórcios é bem maior.
A maioria dos adultos com TDAH apresenta sintomas
muito similares aos apresentados pelas crianças. São freqüentemente inquietos,
facilmente distraídos, lutam para conseguir manter o nível de atenção, são
impulsivos e impacientes e, por isso, no ambiente de trabalho, é possível que
não consigam alcançar boa posição profissional ou status compatível com sua
educação familiar ou habilidade intelectual. (GOLDSTEIN, p. 1999)
O TDAH tem uma predominância maior em meninos e para
o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade (ANDRADE apud GENTILI, 2000) essa
incidência de TDAH em meninos – cerca de oitenta por cento dos casos, está
relacionada também ao hormônio masculino, testosterona.
Vários estudos mostram que não existem dados
suficientes que indique a utilidade de exame de neuroimagem no diagnostico de
TDAH, porém através de uma ressonância magnética de alta evolução percebem-se
algumas alterações na estrutura do cérebro, nas dimensões determinantes de
regiões cerebrais que comprovam mais do que nunca a natureza orgânica desse
transtorno. Já o eletrocefalograma (ECG) não é necessário para o diagnóstico de
TDAH, sendo útil em casos de diagnósticos diferenciais específicos. (Arruda,
2009)
Para caracterizar um hiperativo deve-se levar em
conta o tempo que a criança começou a apresentar os sintomas, pois segundo o
DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) os sintomas
deverão ser ininterruptos e com duração mínima de seis meses sem limitar-se a
apenas uma situação. Então, quanto mais cedo se tenha um diagnostico mais
chance ele terá de ter um melhor desenvolvimento. Vale salientar que, os
professores são os primeiros profissionais a notar dificuldade no aprendizado e
no comportamento do aluno e estes serão os informantes do que ocorre em sala de
aula. Portanto, o professor possui papel primordial na aplicação de estratégias
desenvolvidas pela equipe de saúde e/ou equipe do Atendimento Educacional
Especializado (AEE) e ele poderá fazer avaliações sucessivas da eficácia do
tratamento indicado após diagnóstico clinico. O professor, porém, necessita de
capacitações a cerca do TDAH, pois só assim, é que terá como oferecer melhores
condições para as crianças com esse transtorno.
Arruda (2009), em uma palestra on-line no site
atençãoprofessor definiu o TDAH como sendo um transtorno neurobiológico de alta
prevalência que causa grande impacto sobre a pessoa com esse transtorno, sobre
a família e sociedade e que tem início na infância e apresenta várias formas de
manifestação e requer um tratamento específico e eficaz.
É importante saber que o Déficit de atenção, a
Hiperatividade e a impulsividade são sintomas centrais do TDAH e para que
possamos identificar o aluno com possível transtorno precisamos saber como se
manifesta em casa e na escola.
Arruda (2009) aponta ainda algumas conseqüências do
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade no processo de aprendizagem
julga-se importante conhecer:
Na leitura: déficit de consciência fonológica,
dificuldades de decodificação, baixa fluência, vocabulário pobre e dificuldade
de interpretação;
Na escrita - erros ortográficos e dificuldade de
soletração, melhor desempenho oral do que na escrita, estrutura de parágrafos e
sentença pobre, dificuldades em gramática, dificuldades em organizar idéias,
pobre capacidade de expressão e autocorreção;
Matemática - dificuldade de rememorar e manipular
regras básicas, dificuldades de rememorar a seqüência de operações básicas para
a solução dos problemas, dificuldades de compreensão de conceitos numerais,
dificuldade de interpretação dos enunciados de problemas, dificuldades com
problemas matemáticos que envolvam habilidades visio-espaciais e erros por
desatenção aos sinais de operação.
Arruda, (2009) apresenta ainda o resultado de uma
avaliação do Barkley, (2007) feita estatisticamente em longo prazo sobre as
conseqüências do TDAH no processo de aprendizagem, que avaliou crianças depois
de duas décadas.
“Conforme Arruda, (2009) o Déficit de atenção se
manifesta na pessoa com TDAH da seguinte forma: “parece não ouvir”; “sonha
acordado”; “vive no mundo da lua”; “não termina tarefas ou demora uma
eternidade”;” muda de uma atividade incompleta para outra , não tem
perseverança” ; “perde as coisas constantemente”; “esquece recados”;
“distraem-se com facilidade”. Essas manifestações ocorrem devido a pessoa com
TDAH ter dificuldades para seguir instruções.
A hiperatividade é bem evidente, por isso mais fácil
de ser identificada, uma vez que a criança não pára quieta, é elétrica, escala
demais, fala demais, não conseguem parar nem para as refeições, não conseguem
assistir TV por muito tempo, se mexe o tempo todo, se vira e desvira de cabeça
pra baixo. Estas são manifestações da hiperatividade que leva o professor a
sentir dificuldades em manter a criança com TDAH sentada e atrair sua
atenção. Arruda (2009) diz ainda que,
algumas crianças apresentam movimentos parasitas, ou seja, movimentos corporais
sem objetivos, sem finalidades que deveriam estar sendo brecados no sistema
nervoso, mas que estão presentes e se exteriorizam movimentando a todo o
momento o tronco, o quadril, a cabeça e acaba por atrapalhar as outras crianças
na sala de aula.
Apesar da intensidade dos problemas experimentados
pelas pessoas com TDAH as causas podem variar de acordo com suas experiências
de vida, está claro que a genética é o fator básico na determinação do
aparecimento dos sintomas do TDAH.
Observa-se ainda que, alunos com distúrbios de comportamento de séries
iniciais constantemente foram motivos de queixas feitas pelo professor de sala
regular, alegando que os mesmos não conseguem aprender devido ao déficit de
atenção e hiperatividade. Porém, neurologistas e estudiosos afirmam que a
criança com TDAH com manifestações intensa, exuberante necessita de tratamento
medicamentoso para dar prosseguimento e continuidade aos estudos, pois sem ele
dificilmente conseguirá ter êxito.
Os medicamentos mais utilizados para o controle dos
sintomas do TDAH são os psicoestimulantes; 70% a 80% das crianças e dos adultos
com TDAH apresentam uma resposta positiva. Portanto, eles podem, até certo
ponto, estimular a performance de todas as pessoas. Mas, em razão do problema
específico que apresentam crianças com TDAH apresentam uma melhora dramática,
com redução do comportamento impulsivo e hiperativo e aumento da capacidade de
atenção. O controle do comportamento é
uma intervenção importante para crianças com TDAH. O uso eficiente do reforço
positivo combinado com punições num modelo denominado “custo de resposta” tem
sido uma maneira particularmente bem sucedida de lidar com crianças com o
transtorno.
3. CONCLUSÃO
Diante do estudo de diversas literaturas para a
elaboração desse artigo conclui que o nosso comportamento tem bases orgânicas,
ele não é apenas definido pela nossa genética, ele tem influência sobre o meio
e é uma combinação das duas coisas. Sabe-se que a hiperatividade não é alguma
coisa que a pessoa pode definir se ele quer ou não ser hiperativo e não passa
pelo julgamento dessa pessoa. Sabe-se ainda, que alunos com TDAH são mais
difíceis de serem agrupadas, de ter uma boa socialização com os colegas na sala
de aula e são muitas vezes excluídas pelo grupo e esses são comprometimentos
que, não podem em momento algum passar despercebidos pelos professores que
estão no dia-a-dia com todos os alunos. Assim sendo, percebe-se que o professor
precisa não só conhecer os sintomas do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade) como também aprender a lidar com o aluno com esse transtorno,
uma vez que é muito freqüente na idade escolar. A agitação desse aluno consegue
modificar a rotina não só da sala de aula onde está inserido, mas de qualquer
ambiente onde ele esteja.
Referências
ABDA – Associação Brasileira do Déficit de Atenção –
Como diagnosticar crianças e adolescentes - http://www.tdah.org.br/diag01.php
ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou
hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n. 132, p. 30-32, maio 2000.
GENTILE, Paola. Indisciplinado ou hiperativo. Nova
Escola, São Paulo, n. 132, p.30-32, maio. 2000.
GOLDSTEIN, Sam. Hiperatividade: como desenvolver a
capacidade de atenção da criança. São Paulo: Papirus, 1998. 246 p.
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes Inquietas. Rio de
Janeiro: Napads, 2003. 224 p.
TIBA, Içami. Quem ama educa. 6. ed. São Paulo:
Gente, 2002. 302 p.
TOPAZEWSKI, Abram. Hiperatividade: como lidar? São
Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. 89 p.
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