terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade


TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE, A PARTIR DA VIVÊNCIA DE UMA PROFESSORA

AUTORA: JANEIDE MOREIRA DA SILVA SOUZA

E-MAIL: jneynill@gmail.com

1.         INTRODUÇÃO
O presente artigo trata de um estudo sobre as características apresentadas pelo aluno com TDAH e tem o intuito de analisar a problemática da forma como os professores lidam com essas questões. Para alguns professores, o aluno com TDAH na sala regular é visto como um aluno “problema”, ou seja, indisciplinado, agitado e agressivo que causa uma verdadeira revolução na sala de aula.
A dinâmica do ambiente escolar, em algumas situações mostra que os profissionais da educação e mais especificamente o professor, têm dificuldades em lidar com aluno com o comportamento muito ativo e inquieto (que não estão de acordo com os padrões considerados normais de comportamento). Esta realidade por algumas vezes acaba induzindo o professor a confundir os diferentes tipos de comportamento, acentuadamente o agitado / agressivo e de difícil convivência social. E é por essa razão que o professor, na grande maioria das vezes, rotula esses alunos como *indisciplinados e/ou apresentam outros problemas de **ordem psicológica, como aluno que tem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Por desconhecer o significado do TDAH, seus sintomas, causas, conseqüências e tratamentos na criança, na adolescência e, em alguns casos, até na idade adulta, o professor comete equívocos e compromete o desempenho do aluno. Contudo, podem-se enfatizar efetivas mudanças da prática pedagógica diária do professor que atua no contexto da sala de aula, demonstrando interesse em lidar e conhecer os fatores que o levam a identificar alunos com possível ou real diagnóstico de TDAH.

Professores que têm alunos hiperativos precisam de paciência e disponibilidade e principalmente conhecimento sobre TDAH, pois eles exigem tratamento diferenciado, mais atenção e uma rotina especialmente estimulante para estimular e desenvolver a capacidade de atenção da criança. Valorizando assim o seu potencial. (Gentile, P. Revista Nova Escola maio, 2000)


Diante dessa abordagem observa-se a necessidade de cuidados do professor em relação a esse tratamento diferenciado ao aluno com TDAH, para que não aja uma super proteção ou até mesmo exclusão.

2.         DESENVOLVIMENTO
Segundo Silva (2003), o TDAH deriva de um funcionamento alterado no sistema neurobiológico cerebral, isto significa que substâncias químicas produzidas pelo cérebro, chamadas de neurotransmissores, apresentam-se alteradas quantitativamente e/ou qualitativamente no interior dos sistemas cerebrais que são responsáveis pelas funções da atenção, impulsividade e atividade física e mental no comportamento humano. Trata-se de uma disfunção e não de uma lesão como anteriormente se pensava.

O cérebro de uma criança com TDAH, não se difere em nada, nem em forma e nem em aparência, dos demais cérebros que não apresentam o transtorno; a diferença está no íntimo dos circuitos cerebrais que são movidos e organizados pelos neurotransmissores que, em uma última instância, seriam os combustíveis que alimentam, modulam e fazem funcionar todas as funções cerebrais. Assim, os neurotransmissores seriam as gasolinas dos carros, as quedas-d’água que geram energia das grandes hidrelétricas ou mesmo a energia atômica das usinas nucleares. (Silva, 2003 p. 176)

Para Silva (2003 p.179) estudos apontam para a participação de outros neurotransmissores no funcionamento do cérebro, como é o caso da serotonina que exerce papel como coadjuvante no processo de organização cerebral. A ação reguladora do comportamento humano é feita pelo lobo frontal, que exerce uma série de funções de caráter inibitório, sendo responsável em frear os pensamentos, impulsos e velocidades das atividades físicas e mentais. Observa-se que em sala se aula, alunos com comportamento agitado muitas vezes arrancam os brinquedos de seus colegas, correndo sem direção de um lado para o outro e não conseguem ficar por muito tempo quieto e / ou sentado no mesmo lugar como também apresentam dificuldades para concluírem as tarefas escolares solicitadas e em varias situações chegando a ser agressivos e interrompendo de forma involuntária a comunicação, não permitindo a fala dos colegas e até mesmo do professor. Entretanto, esse comportamento é geralmente confundido com indisciplina ou é característico de um distúrbio de atenção que, de acordo com Gentile (2000), o distúrbio de concentração e atenção atinge 5% das crianças e adolescentes de todo o mundo.
Tiba (2000) faz algumas considerações importantes e alerta para algumas diferenças notáveis entre o hiperativo e o mal educado. A agitação do hiperativo tende a continuar diante de situações novas, porém, o mal educado faz uma avaliação do espaço e manipula situações na busca de obter vantagens sobre o outros. Todavia, diz ainda que, “tanto o hiperativo como o mal educado são irritáveis por falta de capacidade para esperar”.
Topazewski (1999) reúne questões inerentes às indagações mais freqüentes e as respectivas respostas, orientando psicólogos, médicos, professores e pais, alertando para o tratamento do TDAH, uma vez que, o não tratamento pode acarretar sérios problemas no âmbito escolar, no relacionamento familiar e social e assim, agir como desencadeadores de distúrbios comportamentais importantes. Percebe-se que a impaciência e a falta de educação constante para ouvir o outro, torna quase impossível à sistematização de qualquer coisa que seja dito ou mesmo a construção do conhecimento. Topazewski (1999) diz ainda que, dependendo da classe social, o hiperativo pode ter uma tendência maior para ingressar no mundo da delinqüência e das drogas (1999, p.85).
Acredita-se que essa tendência do hiperativo de ingressar no mundo das drogas, por exemplo, independe da classe social, pois uma vez apresentando sintomas de TDAH na infância, estes demonstram uma probabilidade maior de desenvolver problemas relacionados com comportamento opositivos desafiador, delinqüência, transtorno de conduta, depressão e ansiedade. É importante considerar que a impulsividade é uma descrição típica de delinqüência. Pesquisas, no entanto, sugerem que o resultado desastroso apresentado por alguns adolescentes não é uma conseqüência apenas do TDAH, mas, antes, uma combinação de TDAH com outros transtornos de comportamento, especialmente nos jovens ligados a atitudes criminosas e abuso de substâncias químicas.
Pesquisas (BASTOS; THOMPSON; MARTINEZ, 2000) mostram que a maioria das crianças com TDAH chega à maturidade com um padrão de problemas muito similar aos da infância e que adultos com esse transtorno experimentam dificuldades no trabalho, na comunidade e com suas famílias. Para Rohde e Benczik (2007), quem tem TDAH apresenta chance maior de ter outro problema de saúde mental como problemas de comportamento, ansiedade e depressão, o que os médicos e psicólogos chamam de comorbidade (ocorrência de dois ou mais problemas de saúde).
A hiperatividade é intensa nos primeiros anos de vida com tendência a redução ao longo da primeira década e à medida que evolui ocorre uma transformação na idade adulta e as manifestações tendem a ocorrer de formas diferentes, predominando assim, o déficit de atenção e não a hiperatividade.

Relatos sobre adultos com TDAH mostram que eles enfrentam problemas sérios de comportamento anti-social, desempenho educacional e profissional pouco satisfatório, depressão, ansiedade e abuso de substâncias tóxicas. Infelizmente, muitos adultos de hoje, quando crianças não foram diagnosticadas com TDAH, acredita-se que por falta de informação dos pais e cresceram lutando com um transtorno que, freqüentemente, passou sem diagnóstico, foi mal diagnosticada ou, então, incorretamente tratada. (Razera, p. 56, 2001)


Adultos com o TDAH sentem dificuldades em planejar, organizar seu dia a dia e provavelmente, enfrentará sérios problemas emocionais e de relacionamento. Nota-se que a incidência de divórcios é bem maior.

A maioria dos adultos com TDAH apresenta sintomas muito similares aos apresentados pelas crianças. São freqüentemente inquietos, facilmente distraídos, lutam para conseguir manter o nível de atenção, são impulsivos e impacientes e, por isso, no ambiente de trabalho, é possível que não consigam alcançar boa posição profissional ou status compatível com sua educação familiar ou habilidade intelectual. (GOLDSTEIN, p. 1999)

O TDAH tem uma predominância maior em meninos e para o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade (ANDRADE apud GENTILI, 2000) essa incidência de TDAH em meninos – cerca de oitenta por cento dos casos, está relacionada também ao hormônio masculino, testosterona.

Vários estudos mostram que não existem dados suficientes que indique a utilidade de exame de neuroimagem no diagnostico de TDAH, porém através de uma ressonância magnética de alta evolução percebem-se algumas alterações na estrutura do cérebro, nas dimensões determinantes de regiões cerebrais que comprovam mais do que nunca a natureza orgânica desse transtorno. Já o eletrocefalograma (ECG) não é necessário para o diagnóstico de TDAH, sendo útil em casos de diagnósticos diferenciais específicos. (Arruda, 2009)


Para caracterizar um hiperativo deve-se levar em conta o tempo que a criança começou a apresentar os sintomas, pois segundo o DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) os sintomas deverão ser ininterruptos e com duração mínima de seis meses sem limitar-se a apenas uma situação. Então, quanto mais cedo se tenha um diagnostico mais chance ele terá de ter um melhor desenvolvimento. Vale salientar que, os professores são os primeiros profissionais a notar dificuldade no aprendizado e no comportamento do aluno e estes serão os informantes do que ocorre em sala de aula. Portanto, o professor possui papel primordial na aplicação de estratégias desenvolvidas pela equipe de saúde e/ou equipe do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e ele poderá fazer avaliações sucessivas da eficácia do tratamento indicado após diagnóstico clinico. O professor, porém, necessita de capacitações a cerca do TDAH, pois só assim, é que terá como oferecer melhores condições para as crianças com esse transtorno.
Arruda (2009), em uma palestra on-line no site atençãoprofessor definiu o TDAH como sendo um transtorno neurobiológico de alta prevalência que causa grande impacto sobre a pessoa com esse transtorno, sobre a família e sociedade e que tem início na infância e apresenta várias formas de manifestação e requer um tratamento específico e eficaz.
É importante saber que o Déficit de atenção, a Hiperatividade e a impulsividade são sintomas centrais do TDAH e para que possamos identificar o aluno com possível transtorno precisamos saber como se manifesta em casa e na escola.
Arruda (2009) aponta ainda algumas conseqüências do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade no processo de aprendizagem julga-se importante conhecer:
Na leitura: déficit de consciência fonológica, dificuldades de decodificação, baixa fluência, vocabulário pobre e dificuldade de interpretação;
Na escrita - erros ortográficos e dificuldade de soletração, melhor desempenho oral do que na escrita, estrutura de parágrafos e sentença pobre, dificuldades em gramática, dificuldades em organizar idéias, pobre capacidade de expressão e autocorreção;
Matemática - dificuldade de rememorar e manipular regras básicas, dificuldades de rememorar a seqüência de operações básicas para a solução dos problemas, dificuldades de compreensão de conceitos numerais, dificuldade de interpretação dos enunciados de problemas, dificuldades com problemas matemáticos que envolvam habilidades visio-espaciais e erros por desatenção aos sinais de operação.
Arruda, (2009) apresenta ainda o resultado de uma avaliação do Barkley, (2007) feita estatisticamente em longo prazo sobre as conseqüências do TDAH no processo de aprendizagem, que avaliou crianças depois de duas décadas.
“Conforme Arruda, (2009) o Déficit de atenção se manifesta na pessoa com TDAH da seguinte forma: “parece não ouvir”; “sonha acordado”; “vive no mundo da lua”; “não termina tarefas ou demora uma eternidade”;” muda de uma atividade incompleta para outra , não tem perseverança” ; “perde as coisas constantemente”; “esquece recados”; “distraem-se com facilidade”. Essas manifestações ocorrem devido a pessoa com TDAH ter dificuldades para seguir instruções.
A hiperatividade é bem evidente, por isso mais fácil de ser identificada, uma vez que a criança não pára quieta, é elétrica, escala demais, fala demais, não conseguem parar nem para as refeições, não conseguem assistir TV por muito tempo, se mexe o tempo todo, se vira e desvira de cabeça pra baixo. Estas são manifestações da hiperatividade que leva o professor a sentir dificuldades em manter a criança com TDAH sentada e atrair sua atenção.  Arruda (2009) diz ainda que, algumas crianças apresentam movimentos parasitas, ou seja, movimentos corporais sem objetivos, sem finalidades que deveriam estar sendo brecados no sistema nervoso, mas que estão presentes e se exteriorizam movimentando a todo o momento o tronco, o quadril, a cabeça e acaba por atrapalhar as outras crianças na sala de aula.
Apesar da intensidade dos problemas experimentados pelas pessoas com TDAH as causas podem variar de acordo com suas experiências de vida, está claro que a genética é o fator básico na determinação do aparecimento dos sintomas do TDAH.  Observa-se ainda que, alunos com distúrbios de comportamento de séries iniciais constantemente foram motivos de queixas feitas pelo professor de sala regular, alegando que os mesmos não conseguem aprender devido ao déficit de atenção e hiperatividade. Porém, neurologistas e estudiosos afirmam que a criança com TDAH com manifestações intensa, exuberante necessita de tratamento medicamentoso para dar prosseguimento e continuidade aos estudos, pois sem ele dificilmente conseguirá ter êxito.
Os medicamentos mais utilizados para o controle dos sintomas do TDAH são os psicoestimulantes; 70% a 80% das crianças e dos adultos com TDAH apresentam uma resposta positiva. Portanto, eles podem, até certo ponto, estimular a performance de todas as pessoas. Mas, em razão do problema específico que apresentam crianças com TDAH apresentam uma melhora dramática, com redução do comportamento impulsivo e hiperativo e aumento da capacidade de atenção.  O controle do comportamento é uma intervenção importante para crianças com TDAH. O uso eficiente do reforço positivo combinado com punições num modelo denominado “custo de resposta” tem sido uma maneira particularmente bem sucedida de lidar com crianças com o transtorno.
3.         CONCLUSÃO
Diante do estudo de diversas literaturas para a elaboração desse artigo conclui que o nosso comportamento tem bases orgânicas, ele não é apenas definido pela nossa genética, ele tem influência sobre o meio e é uma combinação das duas coisas. Sabe-se que a hiperatividade não é alguma coisa que a pessoa pode definir se ele quer ou não ser hiperativo e não passa pelo julgamento dessa pessoa. Sabe-se ainda, que alunos com TDAH são mais difíceis de serem agrupadas, de ter uma boa socialização com os colegas na sala de aula e são muitas vezes excluídas pelo grupo e esses são comprometimentos que, não podem em momento algum passar despercebidos pelos professores que estão no dia-a-dia com todos os alunos. Assim sendo, percebe-se que o professor precisa não só conhecer os sintomas do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) como também aprender a lidar com o aluno com esse transtorno, uma vez que é muito freqüente na idade escolar. A agitação desse aluno consegue modificar a rotina não só da sala de aula onde está inserido, mas de qualquer ambiente onde ele esteja.


Referências
ABDA – Associação Brasileira do Déficit de Atenção – Como diagnosticar crianças e adolescentes - http://www.tdah.org.br/diag01.php

ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n. 132, p. 30-32, maio 2000.

GENTILE, Paola. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n. 132, p.30-32, maio. 2000.

GOLDSTEIN, Sam. Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção da criança. São Paulo: Papirus, 1998. 246 p.

SILVA, Ana Beatriz B. Mentes Inquietas. Rio de Janeiro: Napads, 2003. 224 p.

TIBA, Içami. Quem ama educa. 6. ed. São Paulo: Gente, 2002. 302 p.

TOPAZEWSKI, Abram. Hiperatividade: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. 89 p.

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